quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Palavras

Palavras.
Blocos monolíticos, mas moles como massa.
Secas e duras: pedra, mas insidiosas, amolecendo tudo.
Palavras.
Dizem e explicam tudo, mas sempre falham.
Explicitam a alma, mas não vão até lá.
Palavras.
Lidas, ouvidas, faladas, cantadas prometem o cerne,
Mas quanto ruído.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dando um Tempo do Lugar

Gary Hill expôs pela primeira vez no Brasil, em outubro de 1997 no CCBB mostrou uma série de trabalhos em vídeo, numa época em que as pessoas, no Brasil, ainda perguntavam se vídeo era arte. Seus trabalhos, no entanto tinham tamanha força que ajudaram a demolir esta visão tacanha, acelerando a aceitação do vídeo como meio de manifestação artística. Atualmente o meio tronou-se uma unanimidade, mesmo entre aqueles que inicialmente o menosprezavam.
Na época fiquei muito impressionado com as soluções encontradas pelo artista para lidar com a preocupação primordial da arte, isto é o expectador.
Toda obra de arte existe, pois existe alguém para vivenciá-la. Sem esta “demonstração” de sua existência ela não passa de idéias na cabeça do artista. Gary Hill então propunha um entrosamento do outro com seus trabalhos sem o qual a obra estaria incompleta. Exemplificando: Tall Ships - projeções de pessoas, inicialmente ao longe, que se aproximam do visitante assim que a presença destes é detectada por chaves eletrônicas; Standing Apart/Facing Faces - duas figuras de um índio são, projetadas em tamanho natural em duas paredes, bem próximo ao vértice comum destas, fazendo com que o expectador se torne a terceira aresta deste triângulo.
A necessidade da interação obra-observador era tão grande que a tradução do título da exposição me parecia inexata (vale lembrar da dificuldade inerente de qualquer tentativa de tradução). O nome em inglês era Where The Other Takes Place, e foi traduzida como O Lugar do Outro, na minha opinião ficaria mais preciso se fosse: Onde o Outro Acontece, pois se aproximaria mais da importância concedida ao visitante pelo autor. Deixando mais clara a interação descrita anteriormente.
A relação entre Gary Hill e a literatura me passou despercebida entre aqueles trabalhos todos, mesmo sendo uma das maiores preocupações do artista, merecendo um texto super adjetivado de Arlindo Machado no catálogo daquela exposição.
Este viés é muito mais explicitado na exposição atual do artista, O Lugar Sem o Tempo (Taking Time From Place - algo que também poderia ser traduzido como: Dando Um tempo do Lugar) que encontra-se no Oi Futuro, com a curadoria de Marcello Dantas, mesmo curador da anterior. Agora a palavra está realmente no foco. Quase a totalidade dos trabalhos lidam com a palavra, podendo ser enquadrados como poemas visuais. Talvez seja esta a razão de eu ter ficado mais distanciado dos trabalhos. Em primeiro lugar não consegui entender as palavras que estão sendo ditas, em um trabalho elas são propositalmente entrecortadas nos deixando apenas com a imagem de um homem se jogando contra a parede com uma luz estroboscópica piscando contra os nossos olhos. Noutro uma mão manipula discos floridos enquanto o som dispara um texto que não me soou compreensível, e me pergunto: se um artista nacional resolvesse usar imagens de disco de chitões floridos, ele teria a admiração de alguém? A obra com a imagem dos trabalhadores silencioso encarando a câmera é da época dos trabalhos apresentados há 12 anos (no catálogo daquela exposição, vemos uma foto do trabalho) e está desconectado com a curadoria atual, além de me deixar uma impressão de que aquelas pessoas deveriam ser trabalhadores na construção do Rockfeller Center, pois os anos tornaram suas roupas em figurino de época. Em minha opinião o melhor trabalho de Hill exposto atualmente no Rio é aquele em que vemos pedaços do corpo do próprio artista pressionando uma superfície. A inteligência deste trabalho está no uso do som, uma modulação frequêncial que carrega em si toda a força feita nas projeções, ficando o contraste da suavidade (carícia) de uma projeção numa superfície e a força feita pelo retratado. Este trabalho justifica o nome da mostra. Outro ponto alto é o texto do artista plotado no nível inicial das galerias.
Fico com pena por não perceber a preocupação com o outro que o artista tinha, se deixando levar pela metalinguagem, característica da contemporaneidade que, na minha opinião, é chata e fria. Sinto saudades das figuras espectrais de Tall Ships que se aproximavam de nós, ficando a nossa frente, mudos, em tamanho natural, nos jogando dentro das suas engrenagens. Contemplar aquelas figuras nos fazia sentir toda a impossibilidade do diálogo e, principalmente, a força da comunicação não verbal, onde os ruídos de nossas psiques eram os fios no labirinto de Minos.

sábado, 18 de julho de 2009

Minhas Migalhas.

Estamos mais do que acostumados a ver filmes. Gostamos de ouvir estórias. Isso vem conosco desde a infância, quando nossos pais sentavam em nossas cabeceiras e liam ou inventavam roteiros de aventuras rocambolescas, com príncipes e dragões. Os filmes substituem o orador, mas continuamos precisando de fantasias.
Não é para falar mal de cinema o propósito deste texto, mas para destacar que nessas aventuras cinematográficas sempre encontramos a figura do herói, seja ela a mais atípica possível. O herói é, antes de tudo, uma pessoa que sabe qual é o seu propósito na vida. Ele tem uma missão, ele sabe, como numa tragédia às avessas que será bem sucedido. O herói sabe para o que ele serve, tem a certeza do futuro glorioso pela frente.
Em nossas vidas ordinárias é tão difícil saber qual é o nosso propósito, não? Bem, para mim é. Tenho tantos personagens dentro de mim que construir uma estória para a boa aventurança de um deles somente é quase uma covardia. Todos querem se dar bem. Quando mais novo eu achava que a glória seria o caminho natural para mim. Eu o onipotente. Várias solapadas depois, já não tenho tanta convicção de sucesso, continuo tentando no entanto. Não na esperança de vitória, embora essa esta exista, mas no prazer da realização. Gosto do fazer. Gosto de sentir todo o progresso de um projeto. Tenho vários desejos para por em ação, a grande maioria sucumbe à inércia da preguiça, os que se fazem imperiosos tornam-se objetos de arte, que insisto em por no mundo. Não quero que minha existência fique sem vestígios, quero deixar pistas de que existi, nem que sejam rastros de farelos como João e Maria. Pássaros,podem comê-las. Alguém saberá de mim. Please remembre my name.

domingo, 5 de julho de 2009

Tudo Outra Vez

A possibilidade de recomeçar se torna um grande prazer ao longo da vida. Dolorosa é sua mãe caos. A descoberta do novo rumo é ímpeto soprado por vento vivo. A reconstrução é o pós-caos.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Meus Cães




Por mais racional que uma pessoa possa parecer, sempre deixará cair a máscara quando o assunto for seus animais de estimação. Não existe racionalidade na alegria festiva da recepção que esses fazem quando retornamos para casa, mesmo que só tenhamos saído para pegar a correspondência. Ser tão bem recebido vai minando a nossa frieza e transformando nossos companheiros em fornecedores de alegria, nos tornando adictos.
Posso estar completamente envolvido com os problemas cotidianos, mas é só olhar para o lado e lá estão eles nos fazendo companhia, silenciosos, quando se notam olhados passam a demonstrar sua alegria em serem notados, balançam o rabo, se aproximam e pedem carinho. Mais do que pedir carinho eles nos fornecem a confortável presença carinhosa de seus pêlos, focinhos gelados, patinhas que coçam os olhos, gracinhas inesperadas, fazendo, mesmo que por pouco tempo, o mundo parecer realmente um bom lugar.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Moonlight Serenade

Hoje foi para o trabalho ouvindo a trilha sonora de The Glenn Miller Story. Amo música e tenho muitos CDs, aproveito as minhas longas idas e voltas do trabalho para escutá-los. A escolha é um tanto rápida e muito variada pelo humor, mas, às vezes, pego algum CD que não ouço há tempos e deixo me surpreender por sua audição. Hoje foi isso que aconteceu.
A primeira coisa que posso dizer é que adoro Big Bands. A sonoridade produzida por aquelas orquestras é tão volumosa e sedutora que não tem como não ficar arrebatado por ela. Acho que na época, a juventude que curtia as bandas, hoje curtiria Heavy Metal, tamanho o volume do som.
Elas foram muitas, as melhores produzidas pelos EUA, lá, nem caberia citar a enormidade. Cada uma com suas peculiaridades. Foram fábricas de músicos importantes, fornecendo vasto material técnico para o Jazz, seu grande herdeiro.
Sem contar em seus crooners. Nossa: Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Anita O’Day...
Ouvindo a banda de Glenn Miller, a associação com máquinas é quase instantânea. A precisão da orquestração me fez pensar em engrenagens, correias dentadas, pistões, válvulas etc. Tudo meio já passado nestes dias de hoje que abandonam a mecânica. Assim como abandonamos aqueles sons.
Gosto das Big Bands desde criança. Me lembro de um baile que fui com meus pais e os assisti dançando pelo salão ao som de Severiano Araújo. Como achei bonito, como fui envolvido pela música, presenciar a realização de coisa tão cheia de camadas, ao vivo, me tirou da mesquinhez cotidiana, me levando para sei lá onde.
Na minha adolescência, durante uma das férias de verão passadas em Marataízes, eu e uns amigos, ao vermos um amigo da turma, finalmente tomar coragem e beijar uma menina, meio de chacota começamos a cantar Moonlight Serenade, no estilo de Pâ-pâ-nâ-nã....
Hoje, num carro rumando para Campo Grande, me lembrei da cena descrita a cima. Não dá para negar que tem algo Felliniano nela, faltou só o céu artificial, mas aquele coro de meninos, lado a lado, dançando em sincronia de um lado para o outro, cantando aquela música para enfeitar um momento importante de outro amigo, me grato aos amigos, principalmente aos amigos que conheciam Glenn Miller e me fizeram participar de um momento mágico.

domingo, 7 de junho de 2009

Introdução

Olá, me chamo Júlio e sou uma pessoa com diversos interesses. Posso exemplificar: sou médico, pneumologista para ser exato, mas também sou artista plástico, estou escrevendo alguns contos e agora iniciando um blog.
Todo Mundo é múltiplo.
Temos os mais variados interesses e gostos e nos damos direito de sermos contraditórios.
Este espaço tem a finalidade de servir às minhas múltiplas atividades, seja para expor fotos, vídeos, textos ou o que quer que seja.
Visite, comente.
Me ajude a construir uma ferramenta aberta aos desejos.
Bem vindos.