segunda-feira, 1 de março de 2010

Eduardo Kac - Crítica.




Eduardo Kac faz da tecnologia a sua obra, torna a execução mais importante do que o resultado. Foi assim com “sua” coelha fosforescente, aliás radioativa já que sua luz acompanha o artista até hoje. Esta mesma coelha ainda gera obras como desdobramentos, mas todas elas são menores do que a tecnologia usada para criá-las. Na exposição atual ainda continuamos ouvindo ecos da verdinha, seja em obras nas quais ela é usada para gerar caracteres que a representariam, seja através do Google Earth que nos mostra uma destas representações instaladas no teto do prédio onde a mostra acontece. Estes lepusgrifos verdes estão presentes em todas as obras do primeiro andar. Logo na entrada temos alguns discos de metal com estas formas, somos imediatamente informados que estes objetos foram “lidos” e processados por computadores da NASA e que estes dados foram enviados via satélite para a Estrela de Lepus, na galáxia tal, a tal distância e que os dados chegarão ao seu destino em tanto tempo. Na sala ao lado temos estes caracteres impressos em verde e preto em papel, veja bem, papel, gravura. Já num canto vemos uma projeção onde um espiral destas “letras” se move sobre fundo branco, porém somos informados antes que a criação dos padrões é ininterrupta, que não estamos vendo nenhum looping, mas o resultado final, mesmo se usado o looping, seria o mesmo: espiral de grifos sobre fundo branco.
Tem um outro andar totalmente dedicado a Edunia, uma petúnia modificada geneticamente onde um pedaço do códico genético do artista foi inserido, criando uma espécie de zoo-fito-flor. O texto neste andar, bastante poético chega a aludir a presença de fluidos do artista correndo pelas veias da planta. Veias? A planta não pode vir ao Brasil por questões alfandegárias, embora eu tenha lido uma matéria anterior a abertura da exposição em que o artista falava da difícil adaptação da planta ao clima tropical. Onde será que ela foi parar? O que vemos no andar então são fotos das flores em close, somos informados que elas foram fotografadas como retratos desta entidade Na’vi, que as individualizariam. Suponho que Margaret Mee tenha conseguido com mais sucesso este feito ao criar suas pinturas sobre a flora brasileira, mesmo que seu intuito fosse o oposto, o de classificar e, portanto generalizar as plantas. O que está exposto neste andar são fotos, papel, além de caixas vazias que conteriam sementes da flor. Imagino que as sementes também estão incluídas nos problemas aduaneiros.
Há também um estojo contendo material, um kit tipo faça você mesmo, que possibilitaria a modificação genética de bactérias, isso me lembrou um produto vendido na minha infância chamado Kikos Marinhos, supostos seres aquáticos antropomórficos que pintariam o sete quando crescidos, fato que obviamente nunca acontecia, me fez lembrar do tal kit pois minha mãe, mesmo depois da fraude desmascarada, ficou com medo de jogar as tais coisinhas fora e elas criarem um desastre ecológico, portanto cuidado com esta manipulação bacteriana, podemos acabar criando um mostro das profundezas. Mauro Espíndola produziu kits para modificações das mais diversas, em Mauro o intuito é puramente artístico, em Kac é biológico.
Também estão expostos pequenos quadro habitats, que devem ser regados e que se modificam com o tempo, estes objetos são realmente bonitos e fascinantes pois criam abstrações cromáticas que impressionam. Parecem pinturas criadas numa mesma sfra de um artista. Ops, falei em quadro?
Bem, sem mais delongas, a obra do artista, que disse em uma entrevista criar arte sem metáforas (seria possível?), leva muito mais em consideração a maneira como é produzida do que o resultado final, um artista intrinsecamente ligado a tecnologia, expõe no Oi Futuro gravuras, pinturas e retratos.

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